NHÁ CHICA - A SANTA DO CAMINHO DO COMÉRCIO


José Francisco Mattos e Silva

Independentemente da sua religião ou da sua fé, independentemente da minha também, o dia de hoje para todos os nascidos no Sul das Minas Gerais é muito significativo. Quase todos, senão todos, desde os tempos de criança ouvíamos, as vezes assombrados, as histórias de Nhá Chica. Nhá Chica, que nasceu no arraial do Rio das Mortes, cresceu e viveu em Baependi, nas estradas reais e nos caminhos que construíram o Brasil, o caminho do comércio.

Filha de escravos, analfabeta, simples, mulher que abraçou a riqueza do amor. Em sua casa, uma cama, seis bancos, um fogão a lenha, seus objetos, um sombrinha, um terço. Sua roupa, um único vestido. Nhá Chica soube ser gente, atraiu os homens cultos do Império, abraçou os pobres, consolou os famintos, muito mais do que pão, alimentou o povo de sua época com a generosidade ao saber ouvir, aconselhar e nas despedidas nas quais recomendava, com esperanças: "vou falar com minha Sinhá ".

Nhá Chica de Baependi que no Tupi significa "qual é sua nação?", de onde é sua terra. Somos cidadãos do céu, todos, indistintamente. Baependi é hoje a cidade de todos os mineiros, naquele pedaço de chão, antigo e famoso pelas histórias das visitas da Família Imperial, dos Coronéis e do povo bom e acolhedor de umas das cidades mais importantes na história de Minas Gerais, cabe hoje o ouvir, o pensar, o olhar e o coração de todos os filhos da Alterosas, sobretudo os do Sul de Minas.

Na minha infância, lembro-me bem das histórias contadas pelo saudoso Sr. Alberto Pena, sobre sua meninice em Baependi e as histórias que ele ouvia daqueles que foram contemporâneos de Nhá Chica. Confesso que ficava assustado com os ditos milagres, ao mesmo tempo, curioso e como sempre, até hoje sofro disto, duvidava.

Nhá Chica ensina-nos também a acreditar, "isso acontece porque rezo com fé". Infelizmente, duvidamos de nós mesmos, somos fracos e por faltar a humildade do reconhecimento de nossas fraquezas, não chegamos lá... Mas ela, Nhá Chica, conseguiu não tendo vergonha de ser gente simples, olhar manso, sereno, mãos envelhecidas, frágil mulher forte, a primeira dos mineiros...

Minhas avós, Josefina e Ruth, também nutriam grande afeição e devoção por Nhá Chica. Nos últimos dias imagino como seria a reação destes todos neste dia 04 de maio, quando naquela Serra de Santa Maria do Baependi um Cardeal proclama, em nome da Igreja Católica, Francisca Paula de Jesus, Nhá Chica como Beata, beata no sentido exato da palavra. Beata vem do italiano e significa quem é feliz e quem foi feliz segurando sua sombrinha, sentado ao lado do fogão a lenha, construindo seu templo onde cultivou suas virtudes, a maior delas a de ser tipicamente mineira, tipicamente uma santa brasileira.

Comentários

  1. Parabéns similar ao caminho do comércio tem a estrada do presídio que ligava visconde do rio branco a campos dos Goytacazes utitizando-se dos rios pomba e muriae, afluentes do MÉDIO PARAÍBA DO SUL em terras dos sertões dos PURIS! E ainda outra sobre a qual foi preso o contrabandista MANOEL HENRIQUE XOPOTO, O MÃO-DE-LUVA!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

FAZENDA DAS LARANJEIRAS - ANDRELÂNDIA

ANTIGA ROTA DE LIGAÇÃO ENTRE MINAS GERAIS E RIO DE JANEIRO COMPLETA 210 ANOS

CAMINHO DO COMÉRCIO - UM TRECHO POUCO CONHECIDO DA ESTRADA REAL